Sangue do Meu Sangue, de Marco Bellocchio, 2015
Está estreando nos cinemas brasileiros “O Traidor”, filme dirigido por Marco Bellocchio, um dos mais importantes cineastas italianos em atividade, com 60 anos de carreira, iniciada com alguns curtas que precederam seu primeiro longa, o clássico “De Punhos Cerrados” (1965). Baseado na vida do famoso mafioso italiano Tommaso Buscetta, durante sua permanência no Rio de Janeiro, no início dos anos 80, “O Traidor” é um ótimo filme, porém, atípico na filmografia de Bellocchio, um grande questionador de temas amplos, profundos e delicados, como sexualidade, política, religião e psicanálise. Dentre suas obras mais ousadas e controversas, podemos citar aquelas escritas por ele com a colaboração de seu psicanalista, Massimo Fagioli: “Diabo no Corpo” (1986), "O Processo do Desejo" (1991) e "O Sonho da Borboleta" (1994). Inquieto, ele não para de surpreender com filmes repletos de simbologias, dignos de serem revistos de tempos em tempos (e para isso, felizmente há o recurso do streaming!). Sangue do Meu Sangue” (2015), que “traça uma metáfora do poder com vampirismo”, e “é um primor de vitalidade e apuro”, segundo a crítica de cinema Neusa Barbosa, em texto originalmente publicado no site Cineweb, mas que você pode ler abaixo, na íntegra.
O Traidor, de Marco Bellocchio, 2022
'Sangue do meu sangue' traça metáfora do poder com o vampirismo
Filme italiano venceu prêmio de crítica do Festival de Veneza 2015.
Cineasta Marco Bellocchio ('A bela que dorme') mostra vitalidade e apuro.
Neusa Barbosa
Do Cineweb, via Reuters*
Vencedor do prêmio da crítica no Festival de Veneza 2015, “Sangue do Meu Sangue”, do prestigiado cineasta italiano Marco Bellocchio é um primor de vitalidade e apuro. No roteiro, também assinado por Bellocchio –que colhe parte de sua inspiração de um episódio do clássico romance histórico italiano “I Promessi Sposi” (1827), de Alessandro Manzoni- alternam-se duas épocas.
Sangue do Meu Sangue, de Marco Bellocchio, 2015
No século 17, um nobre, Federico Mai (Pier Giorgio Bellocchio), tenta obter da Igreja a permissão para o sepultamento de seu irmão, Fabrizio, um frei que se suicidou, em campo santo. Para admiti-lo, os superiores eclesiásticos do convento obcecam-se por obter uma confissão da monja Benedetta (Lidiya Liberman) de que fizera um pacto com o demônio, seduzindo o frei suicida, o que o liberaria de toda culpa pela morte auto-provocada.
Hospedado ali, com duas irmãs supostamente pias (Alba Rohrwacher e Federica Fracassi), o próprio Federico é atormentado por tentações de sedução e por sugestivos olhares de Benedetta, que solicita silenciosamente uma aliança com ele.
Transfere-se a ação para a época atual, quando um funcionário corrupto do governo (Pier Giorgio, de novo) e um empresário russo (Ivan Franek) tentam comprar as dependências da velha prisão/convento, em cujos quartos úmidos e corredores desolados habita apenas um velho e misterioso conde (Roberto Herlitzka). Este só é visto à noite pelas ruas da cidade e sobre ele paira a sólida suspeita de que seja um vampiro.
Alternando estes dois tempos de maneira fluente, Bellocchio coloca em discussão temas que sempre frequentaram sua obra – como o moralismo doentio da religião, a força indomável dos sentimentos mais vitais do ser humano, a ambição desmedida e a aliança subterrânea e sinistra dos eternos poderes do mundo, à qual cabe muito bem a metáfora do vampirismo, impregnada de um humor negro admirável.
https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2016/11/sangue-do-meu-sangue-traca-metafora-do-poder-com-o-vampirismo.html
Assista ao filme Sangue do Meu Sangue:
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