Cena do filme "O Terceiro Homem"
“O Terceiro Homem” (Reino Unido, 1949), do diretor Carol Reed, venceu o Oscar 1951 de Melhor Fotografia em Preto e Branco (no passado existiu esta categoria específica).
Harry Line, um cara muito querido por seus amigos, apareceu misteriosamente morto, embora alguns apontem que ele estava envolvido em “negócios escusos”. O filme inicia quando o enterro de Harry já está prestes a acontecer, a tempo de seu grande amigo Holly Martins, recém-chegado dos Estados Unidos, comparecer e observar as pessoas reunidas para a última homenagem. Esse é o início de uma teia de intrigas na qual não faltam figuras pra lá de suspeitas.
O personagem que conduz toda a trama, o citado Holly Martins, é um escritor de romances “pulp fiction”, e é ele quem mais se engaja na investigação em torno da morte de Harry. Outro detalhe que reforça ainda mais o elegante estilo literário com que a história é contada: o roteiro foi escrito pelo célebre romancista britânico Graham Greene, autor de clássicos como "O Americano Tranquilo", "O Poder e a Glória" e "Um Lobo Solitário". Esse suspense clássico conta com as atuações arrebatadoras de Orson Welles, Joseph Cotten e da belíssima italiana Alida Valli.
Venerado por cinéfilos do mundo todo, “O Terceiro Homem”, disponível no streaming À La Carte, foi filmado em Viena, fato que acrescentou à cidade um atrativo turístico muito curioso até os dias atuais. Conforme diz o texto publicado no jornal Estado de Minas em 2019, na ocasião da comemoração dos 70 anos da obra, “a cada ano, milhares de turistas visitam locais que aparecem no filme, como por exemplo os canais subterrâneos em que acontece uma das cenas de perseguição mais famosas da produção”. Leia abaixo o ótimo texto, repleto de raras informações.
"O Terceiro Homem", venerado por cinéfilos mas ignorado em Viena, faz 70 anos
Os turistas que procuram a Viena crepuscular imortalizada no filme "O Terceiro Homem" não sabem, mas esta obra-prima do cinema 'noir' nunca conquistou um lugar no coração dos habitantes da capital austríaca.
"A Áustria é o único país onde este filme foi um fracasso", afirma Gerhard Strassgschwandtner, que criou um museu dedicado ao famoso longa-metragem, dirigido pelo britânico Carol Reed.
O filme em preto e branco, que estreou em setembro de 1949, se passa em uma Viena desfigurada pela Segunda Guerra Mundial e se apoia na fama de Orson Welles, um dos nomes do elenco.
Cena do filme "O Terceiro Homem"
"O Terceiro Homem" fez sucesso no pós-guerra e recebeu a Palma de Ouro em Cannes, além do Oscar de fotografia. Em poucos anos se tornou uma obra reverenciada pelos cinéfilos.
"Se transformou em uma obra da cultura pop em todo o mundo, do Japão aos Estados Unidos", explica Norbert Ketter, diretor da secretaria de Turismo de Viena.
A trilha sonora do longa-metragem, composta pelo vienense Anton Karas e quase integralmente interpretada com cítaras, vendeu dois milhões de discos em todo o mundo.
O filme fez tanto pela imagem da capital da Áustria como os palácios da imperatriz Sissi.
A cada ano, milhares de turistas visitam locais que aparecem no filme, como por exemplo os canais subterrâneos em que acontece uma das cenas de perseguição mais famosas da produção.
Cena do filme "O Terceiro Homem"
Viena, ninho de espiões
A britânica Maggie Regan assistiu o filme pela primeira vez em Viena, há 15 anos, e retornou à capital austríaca para o aniversário de 70 anos do lançamento.
"Queria voltar para assistir aqui de novo. A sala estava lotada. Algumas pessoas assistiram pela primeira vez. É tão bem filmado e bem interpretado. Captura uma atmosfera fascinante com personagens arquetípicos incríveis,", declarou Regan à AFP.
Orson Welles interpreta Harry Lime, um traficante perseguido pela polícia. Ele aparece apenas no fim do filme, depois de uma complexa investigação feita por Holly Martins (o ator americano Joseph Cotten), que viaja à Áustria para tentar encontrar o velho amigo.
Filmada como um labirinto de ruínas, a atmosfera da Viena do pós-guerra - ocupada por ingleses, americanos, russos e franceses, e sempre saturada de espiões - foi o cenário ideal para o escritor britânico Graham Greene, autor do roteiro, cuja vida dupla como escritor e espião era um segredo aberto.
E foi justamente "a imagem pouco atrativa da cidade que irritou os vienenses", observa Strassgschwandtner.
"Os moradores da cidade acompanharam com entusiasmo as filmagens de uma produção internacional, mas o resultado final os mostrou como pessoas que procuravam comida no lixo, negociando no mercado negro e que se recusavam a cooperar com a polícia. Não gostaram", recorda Strassgschwandtner.
Um admirador na CIA
Quando Strassgschwandtner inaugurou seu museu no centro de Viena, onde reuniu sua coleção de mais de 3.000 peças, ele e sua esposa Karin Höfler pensavam que era destinado basicamente ao público austríaco porque o longa-metragem "é um documento raro filmado sobre a Viena da época".
"Mas 99% de nossos visitantes são estrangeiros, especialmente americanos e ingleses", explica.
George Hilton, um britânico da cidade de Leeds, descobriu "O Terceiro Homem" há apenas quatro meses e fala do filme com grande paixão.
"É uma história que faz você prender a respiração. Viena mantém algo da atmosfera para mim, seja dia ou noite. Foi o local perfeito" (para o filme), completou.
Hilton e outros visitantes não ficam desapontados nem quando Strassgschwandtner conta que Welles passou apenas uma tarde filmando nos canais subterrâneos a famosa cena de perseguição.
Cena do filme "O Terceiro Homem"
Consagrado como ator e diretor desde "Cidadão Kane", dm 1941, Welles se recusou a passar mais tempo no sistema de esgoto de Viena e obrigou a produção a filmar em um estúdio em Londres as outras cenas em que ele deveria aparecer.
O impacto do filme foi tamanho que marcou até um verdadeiro espião.
O ex-diretor da CIA Leon Panetta relatou em suas memórias a emoção que sentiu em 2010 ao desembarcar no aeroporto de Viena. "A única coisa que faltava era o som da cítara tocando a trilha do filme 'O Terceiro Homem'".
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