Vivian Wu em "O Livro de Cabeceira"
Em meados dos anos 80, ele se tornou uma febre entre os cinéfilos que formavam filas quilométricas para ver seus filmes nos principais festivais de cinema do mundo. No Brasil, não era diferente, tanto na Mostra Internacional de São Paulo como no Festival do Rio, nos quais foram exibidos títulos como "O Contrato do Amor" (1982), "Zoo: Um Z e Dois Zeros" (1985), "A Barriga do Arquiteto" (1987) e, talvez o seu cult maior, "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante" (1989).
Depois, entre a realização de curtas-metragens e diversos trabalhos para a TV, esse gênio ainda fez dois longas de grande impacto, "A Última Tempestade" (1991) e "O Bebê Santo de Macon" (1993), que também deram o que falar. Mas, nada que se comparasse com a sensação que foi o belíssimo e arrebatador "O Livro de Cabeceira" (1995), com sua poesia erótica (incluindo a tão comentada nudez de Ewan McGregor). É claro que estamos falando do cineasta Peter Greenaway, que realiza filmes como quem escreve poesia ou pinta quadros na tela do cinema.
Em texto publicado na Folha de S. Paulo, em 1996, o jornalista Amir Labaki escreveu, se referindo à apresentação de "O Livro de Cabeceira" no Festival de Cannes daquele ano, que o longa "superlotou salas, acumulou aplausos e se tornou um autêntico sucesso de público". Algo que, segundo Labaki, "não acontecia ao cineasta britânico Peter Greenaway desde a explosão com 'O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante'".
"O Livro de Cabeceira" está disponível no streaming À La Carte, onde você encontra mais quatro títulos essenciais do diretor. Leia abaixo o texto completo de Amir Kabaki.
"O Livro de Cabeceira" é Greenaway acessível
Por Amir Labaki
Da Equipe de articulistas
Cena do filme"O Livro de Cabeceira"
Ao ser lançado em maio último, dentro da mostra paralela "Um Certo Olhar", do Festival de Cannes, o longa-metragem "O Livro de Cabeceira" ("The Pillow Book") superlotou salas, acumulou aplausos e se tornou um autêntico sucesso de público.
Isso não acontecia ao cineasta britânico Peter Greenaway desde a explosão com "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante", realizado em 1989.
Nenhuma surpresa, mesmo para o diretor, que reconheceu à Folha: "Eu o considero, dentre meus filmes, um daqueles que mais diretamente se oferece ao espectador".
Rascunho
O ponto de partida é um texto exatamente milenar em 1996 da literatura japonesa, escrito por Sei Shonagon, uma servente da dinastia Heian.
Greenaway o transformou no diário contemporâneo de uma jovem, Nagiko (Vivien Hu), que ascende socialmente trabalhando nos bastidores do mundo da moda.
Cena do filme"O Livro de Cabeceira"
O grande sonho de Nagiko é tornar-se escritora como o pai. Impõe-se, assim, o domínio da arte japonesa da caligrafia.Para tanto, a jovem oferece a pele de seu corpo como rascunho vivo. Ultrapassada a primeira etapa, escreve os 13 livros de sua primeira obra nos corpos de diversos amantes e voluntários.Em Hong Kong, dá-se o encontro com o mais marcante dos namorados, um tradutor chamado Jerome, vivido pelo ator Ewan McGregor imediatamente antes da revelação com "Trainspotting - Sem Limites".
JanelasGreenaway lança mão de um roteiro com estrutura circular para apresentar sua panorâmica sobre 28 anos de vida da protagonista. Como nunca, o diretor banha seu filme com sensualidade e amor à vida.Estamos anos-luz do universo sombrio de seu filme anterior, "O Bebê de Macon" (1993).A experiência com edição eletrônica por computador de "A Última Tempestade" (1991) ressurge aqui aplicada a uma trama litero-erótica à moda de "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante".A multiplicidade de telas simultâneas de textos e imagens não mais se compõe em camadas como num palimpsesto audiovisual, mas sim em séries de janelas de diversos tamanhos e formatos.A leitura ganha nitidez sem perder impacto.O britânico "O Livro de Cabeceira" reconcilia o diretor Peter Greenaway com o prazer da narração em cinema.
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