Adrien Brody no filme "Giallo - Reféns do Medo"
Depois de ganhar fama internacional como “o mestre italiano do suspense”, Dario Argento – diretor de clássicos como “O Pássaro das Plumas de Cristal” (seu primeiro filme), “O Gato de Nove Caudas” e “Suspiria” –, vez ou outra volta a surpreender com filmes inventivos, pertencentes ao gênero a que ele sempre foi fiel ou cheios de autorreferências, como é o caso de “Giallo - Reféns do Medo”, de 2009, obra que intriga e divide opiniões até mesmo entre os seus maiores admiradores. Estrelado por Adrien Brody e Emmanuelle Seigner, o longa, disponível em streaming no Brasil, traz no título uma palavra que define o peculiar suspense que se vê nos filmes de Argento e de outros colegas seus, como Lucio Fulci e Mario Bava. Mas o que é “giallo”, afinal? A palavra quer dizer “amarelo”, em italiano, a típica cor das capas de livros populares, com histórias de terror e suspense, que eram vendidos em bancas de revistas e teve seu auge na Itália a partir dos anos 30. Esse tipo de leitura é o mesmo que podemos chamar de “pulp fiction”, em inglês. No entanto, “Giallo - Reféns do Medo” (propositalmente) pode não entregar o que o título promete, mas nem por isso deixa de ser um filme muito interessante, capaz de deixar o espectador por um bom tempo se perguntando “o que foi isso que eu vi?”. Então, prepare-se para ver “um suspense sem suspense”, que “nos diverte, nos sacia com cenas perversas e sangrentas...", segundo as palavras de Cláudio Gabriel em sua bela análise do filme, publicada no site de entretenimento Senta Aí. Leia abaixo o texto na íntegra.
O que é esse tal de Giallo?
Com as primeiras notícias do remake de Suspiria sendo divulgadas, talvez muitas pessoas tenham se perguntado: o que é isso? Quem é esse tal de Giallo? Mantendo essas perguntas em mente, vamos contar um pouco sobre esse gênero italiano – não exclusivo da sétima arte -, que marcou uma geração e instaurou alguns novos paradigmas para os longas de terror e suspense.
Inicialmente vindo da literatura, o Giallo é um movimento (se é que podemos realmente chamar assim) no qual suas histórias retratam preferencialmente assassinatos em série, no qual ou um detetive ou uma mulher se tornava o protagonista ao tentar descobrir quem realizou os crimes. As vítimas desses assassinos eram, na maioria dos casos, também mulheres. Dentro dessas tramas, apenas no grande clímax final se é descoberto quem realmente foi o culpado, construindo uma tensão e perturbando o público ao longo da história.
Poster do filme "Giallo - Reféns do Medo"
O nome “GIALLO” vem de uma referência às revistas “pulp” que eram comercializadas na Itália, onde o subgênero teve seu estopim no início dos anos 30. Tudo isso porque as capas desses livros eram amarelas, que é giallo em italiano.
Já que estamos falando sobre cinema, o foco aqui será um pouco da história desse movimento dentro dessa arte. Bastante influenciados por Alfred Hitchcock (que já emendava sucessos como Psicose, Intriga Internacional, Um Corpo que Cai, Janela Indiscreta), tudo começou com Olhos Diabólicos, de 1963, dirigido por Mario Bava – que acabou por se tornar um dos mais importantes diretores no meio. Dentre suas obras mais famosas e relevantes estão As Três Máscaras do Terror (cujo nome em inglês é Black Sabbath, originando a banda de mesmo nome), Seis Mulheres para o Assassino e Schock.
Apenas para citar mais alguns, outros dois cineastas de extrema importância foram Dario Argento e Lucio Fulci. O primeiro é responsável pelo longa mais famoso desse estilo, o supracitado Suspiria. Além desse, Tenebre, Síndrome Mortal, Terror na Ópera e Dois Olhos Satânicos também fazem parte de seu repertório. Já o segundo ficou bastante conhecido por sua carreira também nos Estados Unidos, que criou um dos longas mais clássicos: O Estripador de Nova York. Terror nas Trevas, Premonição e Uma Lagartixa num Corpo de Mulher também não podem ser esquecidos devido a sua importância.
É impossível falar sobre o tema desse texto sem lembrar da sua importância para dois outros gêneros que vieram a seguir. Para começar, é impossível não comentar sobre o Slasher, que se formalizou com Halloween – A Noite do Terror, em 1978. Nesse estilo, um assassino em série perseguia adolescentes. Coincidência? Acho que não. Situações cômicas e sustos também não podem ser esquecidos quando falamos nesses filmes. Além dele, o Gore também toma referências muito fortes da sua fonte de origem para criar ideias originais. O Despertar dos Mortos, com George Romero em 1978, é o ponto de partida para esse subgênero.
Cena do filme "Giallo - Reféns do medo"
Mesmo tendo perdido sua força após a década de 80, o Giallo continua sendo uma das principais fontes de influência do terror. Com o horror psicológico em alta – até com a própria cunhação do discutido termo Pós-Terror -, esse movimento se mostra muito presente em cineastas contemporâneos. Outros mais antigos, como o próprio Argento, continuam vivos e ativos, o que leva essa “pequena” ideia que começou na década de 60 ser tão atual e relevante para todo o cinema.
Adrien Brody e o diretor Dario Argento nos bastidores do filme "Giallo - Reféns do medo"
Assista o filme no streaming À LA CARTE
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