
Indicado ao Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional (representando a Alemanha) e consagrado no Festival de Cannes 2024 com o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema), “A Semente do Fruto Sagrado”, do diretor iraniano Mohammad Rasoulof, é “um filme que não deveria existir”.
A história, um suspense crescente com desfecho eletrizante, é centrada em Iman, um juiz investigador do Tribunal Revolucionário em Teerã, que entra em paranoia quando sua arma desaparece misteriosamente, e ele passa a fazer pressão psicológica contra a esposa e as duas filhas adolescentes, suas principais suspeitas.
Preso mais de uma vez no Irã, perseguido e acusado de promover “propaganda antigovernamental”, enquanto estava no set, o diretor soube de uma nova sentença que o levaria a oito anos de prisão, além de açoites, multa e confisco de sua propriedade. Após a conclusão das filmagens, ele decidiu fugir a pé entre as aldeias da fronteira, chegando finalmente a uma cidade onde havia um consulado alemão que o identificou usando suas impressões digitais e emitiu um passaporte temporário que ele usou para viajar para a Alemanha. O material filmado foi contrabandeado do Irã para Hamburgo, onde foi editado, e a pós-produção ocorreu na Alemanha. Em 24 de maio de 2024, finalmente, Rasoulof compareceu à estreia do filme em Cannes e no tapete vermelho ele mostrou fotos de dois dos seus atores, Soheila Golestani e Missagh Zareh, que não puderam comparecer.
Segundo o crítico Claudio Sánchez, em texto publicado na Gazeta do Povo, “’A Semente do Fruto Sagrado’ é desenvolvido com cuidado e muito talento nos planos, concepção e estrutura do roteiro e na trilha sonora, ingredientes que compõem uma obra tão sutil quanto acessível e universal. O filme encontra-se disponível no streaming À La carte, por apenas R$19,90, e assinantes têm um valor especial: R$14,90. A crítica completa assinada por Claudio Sánchez você encontra logo abaixo, nesta página.
“A Semente do Fruto Sagrado” revela as entranhas do regime iraniano atual
Por Claudio Sánchez

Após muitos anos de esforço e lealdade ao regime iraniano dos aiatolás, Iman alcança o cobiçado cargo de juiz de investigação. Esta nova responsabilidade significará algumas mudanças na sua vida familiar, que a partir de então será acompanhada de perto pelo sistema. Essa é a premissa de A Semente do Fruto Sagrado, filme que está em cartaz no circuito alternativo de cinemas no Brasil e disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional com o brasileiro Ainda Estou Aqui.
A biografia de Mohammad Rasouluf, 52 anos, explica perfeitamente o significado de sua obra cinematográfica. Em 2010, o diretor do longa-metragem foi preso junto de seu amigo, o cineasta Jafar Panahi, e condenado a seis anos de prisão, acusado de conspiração e propaganda contra o governo do Irã. Desde então, sua vida ficou marcada pelo sucesso internacional de seus filmes (especialmente com Não Há Mal Algum, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2020), e pela impossibilidade de deixar o país devido às diferentes penas a cumprir.
Com quase três horas de duração, A Semente do Fruto Sagrado é o ponto alto da filmografia do cineasta e um dos títulos mais impressionantes para revelar as profundezas do regime iraniano hoje. O dramático conflito entre o pai, a mulher e as duas filhas explica como o totalitarismo se constrói a partir de casa, em pequenos detalhes que levam ao silêncio, às regras não escritas e a uma cumplicidade venenosa com o sistema. O roteiro é baseado em símbolos e metáforas muito sugestivas que guiam o espectador sem a necessidade de enfatizar ou forçar o drama, permitindo também que a intriga tenha o ritmo e a intensidade que, em alguns casos, falta no mais premiado cinema iraniano das últimas décadas.

A história tem muitas reviravoltas e nuances graças ao ponto de vista das duas filhas, que colocaram um espelho na frente dos pais para analisar todas as inconsistências e características arcaicas da cultura iraniana. Com atuações transbordando naturalidade, A Semente do Fruto Sagrado é desenvolvido com cuidado e muito talento nos planos, concepção e estrutura do roteiro e na trilha sonora, ingredientes que compõem uma obra tão sutil quanto acessível e universal.
Produzido pela Alemanha, antes de ser indicado ao Oscar como representante do país, A Semente do Fruto Sagrado ficou entre os seis indicados do Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Emilia Pérez acabou levando, e provavelmente também vencerá o Oscar por ser o claro favorito, apesar de estar muito longe da qualidade e sensibilidade desse título magistral de Mohammad Rasouluf, reconhecido com prêmios nos festivais de Cannes e San Sebastián.

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